Poesia  /  A Saca de Orelhas  /  Charlotarde

Charlotarde

Aprendeste o abc da fome
com a própria fome e o fervilhante povo
que a fome come em todas as alfurjas
aonde, marginal, se vai parar.

Mas não paraste, que és um espertalhete,
um que faz dois de tudo, sempre à espera
de repartir a côdea e o coração
com uma necessitada companheira
ou uns putos, uns pintos sem galinha.

Inventaste a chaleira-biberão,
o candeeiro-moca e um sem-número
de objectos-truques, isto é, sobrevivência.

«Resistamos, depois se vê…», não é, Carlitos,
tua filosofia?

Mas resistir foi, para ti, agir,
fintar a besta, cumprimentar e desandar.

(Coco e bengala, casaqueta e bota,
em Vevey já há muito que desbotam.)

Charlotarde
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