Poesia  /  A Saca de Orelhas  /  A Vazia Sandália de S. Francisco

A Vazia Sandália de S. Francisco

A gratidão da macieira e a amnésia do gato
nunca pautaram o curso dos meus dias.
«Fiquem onde estão!»,
foi a minha ordem para a macieira e para o gato,
anda bem exteriores ao meu fraco por eles.

Salvei-os (e salvei-me!) de uma fábula
cuja moral necessariamente devia ser eu, o parlante
amigo de macieiras e conhecido de gatos.

Dá um certo desconforto malbaratar assim amigos
em dois reinos da natureza.
Mas também dá liberdade.

Há uma gente que desponta do outro lado do vale.
Está a correr para cá.
São os meus semelhantes.
Com eles vou desentender-me (mais que certo!),
mas a ideia que deles faço
é ainda um laço.

Repousem em paz as macieiras e os gatos.

A Vazia Sandália de S. Francisco
Este site utiliza cookies para permitir uma melhor experiência por parte do utilizador. Ao navegar no site está a consentir na sua utilização.
Caso pretenda saber mais, consulte a nossa política de privacidade