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Moldura sem Retrato

O tempo, suas mordeduras e afagos,
seu galòplouco, suas poalhas de não-tempo,
sua crinarina de espavento,
o tempo e seu tiro, o tempo e seus lagos,
seus armazéns, seu denterrato, seu tic-tacto,
suas bermas de urtigas,
seu automóvel esbarrondado.

O tempo da tua mão na minha têmpora
(por quanto tempo?),
o tempo pronto a saltar do cano à têmpora
(onde? quem? em que tempo?),
o tempo da tua madeixa entre os meus dedos,
o tempo de tu menina (quando eu te via de cima),
o tempo meuteu de tu madona no retrato.

O tempo e seu f’liz-flash.

O tempo e suas varizes no mármore
(entretanto eternidade…)

Mais podre que um sentimento que pudesse
apodrecer ao sol,
o tempo de ficar só!

Soh!

Que não se diga que Lisboa não é uma grande amiga
para o infeliz do amor!

«Se não és minha, és moinha!»,
diz o infeliz do amor.

E a moinha é do tempo um arredor.

F’Lisboa ao redor
de quem não tem amor!

Moldura sem Retrato
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