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Carl Sandburg

Considerado um dos herdeiros do optimismo de Whitman, o que é longinquamente verdade, Carl Sandburg mostra-se, talvez, capaz de maior subtileza que o seu antepassado, cuja poesia, no dizer de um crítico, é uma corrente «lamacenta e impetuosa [que] carrega toda a espécie de aluviões». Nem se trata propriamente de subtileza, mas da capacidade de limitar o campo e dirigir a atenção para o pormenor. Sandburg não arcou com a América e se, no poema que o tornou famoso («Chicago»), assume e glorifica a brutal realidade da cidade, numa perspectiva deliberadamente antimaniqueísta, o que, por certos aspectos, o pode aparentar a Walt Whitman, fá-lo mais por exaltação regionalista do que por americanismo.

Esta (quase forçada) comparação entre os dois poetas não envolve, seja dito, a ideia de grandeza. Whitmans não surgem todos os dias…

Ligado à vida do povo, acaso com uma vinculação mais genuína que a do seu irmão maior, Sandburg é um fino observador do homem americano e do seu dia-a-dia. O que, por fim, lhe tornou monótona a poesia foi uma desesperante incapacidade de se renovar.

De Carl Sandburg traduzimos, para os nossos leitores, os dois poemas abaixo reproduzidos.

 

SOPA

Vi um homem famoso comer sopa.
Vi que levava à boca o gorduroso caldo
com uma colher.
Todos os dias o seu nome aparecia nos jornais
em grandes parangonas
e milhares de pessoas era dele que falavam.
Mas quando o vi,
estava sentado, com o queixo enfiado no prato,
e levava a sopa à boca
com uma colher.        

 

CAIXAS E SACOS

Quanto maior é a caixa, mais leva.
As caixas vazias levam tanto como as cabeças vazias.
Muitas caixinhas vazias que se deitam numa grande caixa vazia, enchem-na toda.
Uma caixa meio-vazia diz: «Ponham-me mais.»
Uma caixa bastante grande pode conter o mundo.
Os elefantes precisam de grandes caixas para guardar uma dúzia de lenços de assoar para elefantes.
As pulgas dobram os seus lencinhos e arrumam-nos com cuidado em caixas de lenços para pulgas.
Os sacos encostam-se uns aos outros e as caixas levantam-se independentes.
 As caixas são quadradas e têm cantos, ou então são redondas e têm círculos.
Pode empilhar-se caixa sobre caixa até que tudo venha abaixo.
Empilhe caixa sobre caixa e a caixa do fundo dirá: «Queira notar que tudo repousa sobre mim.»
Empilhe caixa sobre caixa, e a que está em cima perguntará: «É capaz de me dizer qual de nós cai para mais longe quando caímos todas?»
As pessoas-caixas vão à procura de caixas e as pessoas-sacos à procura de sacos.

Carl Sandburg
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