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O Salvamento do Filho

Vejo o filho levado pela mosca
e estremeço de horror!
Tirado do berço pela mosca,
aprende, aos ziguezagues, a ser vítima da mosca,
mas não chora: um homem nunca chora.

A mosca agiganta-se, o filho diminui.
Um ruído de ventoinha invade o quarto.
Passa por mim a mosca, passa em tromba.
Vi com estes que a terra há-de comer
meu róseo filho que sorria!

Ó meu filho arrebatado que inocência a tua!
Essa fera peluda vai sugar-te
e tu sorris fininho, entre divertido e assustado,
como se a tripulasses num carrocel de feira!

E eu para aqui, tão caçador de moscas
numa infância tão aferroada,
sem um gesto, sequer uma palavra…

Mas de repente a mão disparo
no mesmo assomo de colegial
perseguidor de moscas (era nas aulas de moral…)
e enquanto na direita a mosca se interroga,
na concha da mão esquerda o filho cai – e chora!

O Salvamento do Filho
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