O Adjectivo
O adjectivo? Que horror
quando não é incisivo,
quando atira para o vago
o pobre substantivo
ou o circunda de um halo,
de um falso resplandor,
em que o ouro utilizado
não é ouro é só dourado!
O sol assim captado
é sol, mas sol de teatro,
ouro em falsete, luz barata,
e no prego não dá nada,
que o prego não acredita
(senão já estava falido)
nesse ouro sem quilate
que usam a valdevina
e o poeta que se orna
(que orneia, melhor diria)
de luzidias mentiras,
de poética poesia.
*
Disse pouco do que queria
na parte que antecede.
Se é discursiva, a poesia
também não serve…
Voltando ao adjectivo
(nada tenho contra ele):
é melhor ficar despido,
cosido co’a própria pele,
do que pedir emprestada
a piedosos enchumaços
aquela largura de ombros
que nos faz ginasticados,
quando, em verdade, não temos
mais ginástica do que essa
em que somos atletas
e que se resume apenas
no aguentar alegre
do peso quotidiano
(pode ser que para o ano
a terra nos seja leve).
*
Tal como do mal o menos
– e nesta regra redijo –
antes quero sóbrios termos
do que fingir que sou rico…