«Flor em Livro Dormida»
(J.C. de Melo Neto)
Fechado, espalmado num missal é que eu me vejo,
como peça de herbário dum comércio amoroso
que há um século se travou entre Dom Brotoejo
e Dona Amélia Joana Cisneiros Monterroso.
Antepassados meus? Qual quê! Antepassados nossos,
que ao santo sacrifício levavam floretas,
trocavam os missais (Deus meu!, hoje são ossos…)
olhos nos olhos (… ossos nos ossos das comuns valetas?)
Mais que a letra, é o espírito que no livro procuro,
mesmo que seja só o levante da carne
duns pobres queridos que transformavam tudo
– missa, missal, flor – em mensagem e secreto alarde!
Consumidores de livros, se quiserdes salvar
vossas almas-lombadas de bárbaros prosaicos,
tereis que , furtivos, procurar, folhear
uns quantos alfarrábios e, neles, encontrar
o herbário-mensagem dos amantes heróicos!